Mais do que discutir fatos históricos incontestes, quero problematizar sobre a necessidade de escrever sobre o óbvio - massacres de ontem e de hoje dos povos originais das Américas - que se faz, para alguns, um equivocado e mal intecionado exercício ideológico.
Seja por ignorância, má fé, ou mesmo, estupidez, os envergonhados de nossa ascendência índia e negra se comprazem da cor de sua epiderme, quase branca, dos traços de seus rostos, quase delgados, da altivez de seu comportamento contido, riso tímido, quase britânico, dos valores ocidentais que prometem um futuro de prosperidade e bem estar, um futuro quase perfeito. Para estes néscios, quase europeus, a importância de um artigo como do professor Emir Sader se deve extamente para explicitar o óbvio, para marcar mais uma vez a fronteira que nos separa dos povos do norte.
Nossa históra, cultura, nossas idéias, nossos corpos foram marcados, indelevelmente, pela experiência da colonização. Enquanto chorávamos com os chicotes, patíbulos e argolas, eles riam em seus festins relembrando feitos memoráveis: A conquista do México, o massacre de Eldorado dos Carajás, a prata de Potosí, o Massacre de Tlatelolco, o assassinato de Salvador Allende, o ouro das Minas Gerais, o resgate de Athualpa, o Consenso de Washington... Enquanto lutávamos com a coragem dos araucanos, inquebrantáveis, eles produziam com sua maravilhosa ciência, técnicas de torturas refinadíssimas, último estágio do processo civilizador.
Em suma, nos apraz - nós, latino-americanos - evidenciar mais uma vez o óbvio, não por um exercício niilista de vivenciar a dor dos nossos povos ou marcar a impossibilidade de criar aqui o que o norte criou lá. Mais um vez, sabemos da nossa diferença, não temos vergonha dela. Falar do holocausto das Américas é nos colocar em movimento. É o ponto crítico necessário para revitalizar a dignidade que há em nós, e nos fazer conscientes da luta infinita que travaremos sempre.
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Lua
Há 8 anos
2 comentários:
Esse ano será comemorado o aniversário de 200 anos da vinda da família real para o Brasil. É uma nova modalidade cívica, uma festa imperialista. Os continuadores do legado de exploração da terra e do povo e destruição da cultura nativa, os parasitas portugueses, rirão muito em seus banquetes e ai da voz que se levantar contra os algozes de ontem e de hoje. Quem é agente do império ainda hoje, vai comemorar o seu passado...
Este comentário é o mais pertinente do mundo. Em sua forma não só esplandece a faca afiada necessária para um latino, mas a comunhão da luta, poesia e pedra andina.
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