Debrucei-me sobre as pedras que jaziam impávidas aos pés do mar. As ondas se exibiam majestosas aos casais de namorados. Imóveis, aplaudiam com os olhos o espetáculo tagarela das águas profundas. Relinchavam galopes de sal, musgo, e saudade.
Não me diziam nada.
Fiquei a olhar a robustez do pedregulho desafiador, o seu despir imóvel do manto espumoso que insistente o encobria em vão, o seu silêncio maior que os berros do infinito horizonte. Espertíssimo, fingia de morto como o bicho cascudo agora em meu dedo fingindo ser pedra, tijolo, granito. Por que essa ausência que fere os sensíveis e frustra as paixões?
Debrucei-me sobre as pedras, pequenas cordilheiras de indiferença mineral. Orelha sob o casco duro:
Não disse coisa alguma.
Lua
Há 8 anos
2 comentários:
Muitas vezes tenho essa exata sensação. De ser surdo ao que o mar fala. Um poema antigo e um abraço!
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A FOTO
O mar fala.
O mar repete.
Tento sentir o que.
Talvez seja
para não pensar.
Uma menina pergunta:
– Senhor, que horas são?
Falo dois números e me pergunto
quando virei senhor.
Talvez por isso
esteja de relógio na praia
e não entenda a graça
das cambalhotas infantis na água.
De tanto
olhar sentir ouvir
enormes ondas,
entendo a grandiosidade do momento.
Uma família fotografa o crepúsculo.
O mar diz que não caberá na foto.
(Fabio Rocha - Ponta Negra - 2/2/2001)
Lindo fábio! Obrigado.
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