“Assimetria das curvas dos rios daquelas matas interiores tocando as linhas retas das estradas da Nova Ibéria; anúncio do novo com seus chips eletrônicos e suas danças para chuvas”.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Indiferença

Debrucei-me sobre as pedras que jaziam impávidas aos pés do mar. As ondas se exibiam majestosas aos casais de namorados. Imóveis, aplaudiam com os olhos o espetáculo tagarela das águas profundas. Relinchavam galopes de sal, musgo, e saudade.

Não me diziam nada.

Fiquei a olhar a robustez do pedregulho desafiador, o seu despir imóvel do manto espumoso que insistente o encobria em vão, o seu silêncio maior que os berros do infinito horizonte. Espertíssimo, fingia de morto como o bicho cascudo agora em meu dedo fingindo ser pedra, tijolo, granito. Por que essa ausência que fere os sensíveis e frustra as paixões?

Debrucei-me sobre as pedras, pequenas cordilheiras de indiferença mineral. Orelha sob o casco duro:

Não disse coisa alguma.

2 comentários:

Fabio Rocha disse...

Muitas vezes tenho essa exata sensação. De ser surdo ao que o mar fala. Um poema antigo e um abraço!

---

A FOTO

O mar fala.
O mar repete.
Tento sentir o que.

Talvez seja
para não pensar.

Uma menina pergunta:
– Senhor, que horas são?
Falo dois números e me pergunto
quando virei senhor.

Talvez por isso
esteja de relógio na praia
e não entenda a graça
das cambalhotas infantis na água.

De tanto
olhar sentir ouvir
enormes ondas,
entendo a grandiosidade do momento.

Uma família fotografa o crepúsculo.
O mar diz que não caberá na foto.

(Fabio Rocha - Ponta Negra - 2/2/2001)

Hidalgo disse...

Lindo fábio! Obrigado.