A chuva desliza em leito frouxo.
Toca a terra a beira das casas de taipa desses ermos onde terra quase não há.
Há beiras e cigarros mascados, pinguelas e cãezinhos chorosos debaixo de pontes cambeiras.
Os sapos prolongam a rouquidão da noite,
E dia não há para os olhos acordarem febris como o sol.
As cores se exilaram, e a imensidão é cinza.
As hortas afogam em prantos. Haverá fome.
Quisera o rio se acometer da frouxidão dos leitos:
Esguio, apruma o corpo com brabeza.
Grosso de barro até as tampas, lambe beiras e canelas.
Desdenha as margens e a solidão do que passa.
Surdo com seu rumor de animal enredado,
Não espera o sol desvanecer-se de sua mortalha de frio.
Corre reto deslizando nas curvas crispado de chuva e esperança vã.
Vão será o mar de mil afagos e infinitos acalantos?
Lua
Há 8 anos
2 comentários:
Eu sou rio: eu sorrio.
Sorriso labial da terra que acolhe-empurra água. Gargalhada Fluvial.
A alegria aquática que engravida chão e desagrava pedras: redondinhas...
Docura criativa e violenta:
o homem feito do barro e o rio...também! Água modelante que não me arrasta em homem, mas leva em curso os olhos. Fluxom marrom.
Atravessar uma margem é experiência que faz galalão menino, humano. Andar reto é ir contra, a seguir o curso é ir-se contra. Homens de boa esperança, atravessemos diagonalmente: caminho dele e nosso.
O barro feito homem, pau e pedra pontuando frase, o susto de um só ser tudo e o rio-rio-rio:
Eu sou rio
Sôrrio
Belo poema!! Sensação de mar trazida pela tela seca... Abração
Postar um comentário