“Assimetria das curvas dos rios daquelas matas interiores tocando as linhas retas das estradas da Nova Ibéria; anúncio do novo com seus chips eletrônicos e suas danças para chuvas”.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

A violência da poesia

A poesia é meu artifício para driblar o excesso de seriedade que vestem à vida. É meu pulmão que expele os ares viciados de um peito cansado de panos. É necessário olhar para lua e se espantar. É necessário que os sabores do mundo violentem os nossos corpos. Os instintos não deixam dúvidas sobre toda a intensidade que cobre o mundo como o beijo afoito que abrasa línguas quase acostumadas somente às palavras. Não há necessidade de rostos rígidos, de ternos escuros no centro da cidade, não há necessidade nem de cidades e nem de centros. Eu gosto das esquinas quando cai o dia. Quando a noite aponta no céu suave e os tambores ressoam nas esquinas. Gosto do cheiro dos temperos fortes dos corpos e comidas nas esquinas de gente bonita tocando tambor. Sim, a poesia é arma que não despeja brutalidades, não veste ternos nem se contrai... Se estende preguiçosa no apontar da noite. Escuta o povo cantando e canta também se alongando, se espreguiçando. Não há calor nem dobras, não há dinheiro pra contar no fim do dia, não há cidade para pisar com os pés. Não há pés para pisar. A poesia se desdobra em chuva, catavento, balão colorido, fumaça de churrasquinho... sempre distante, a uma palmo do toque, nunca tocada. A poesia nos faz forte, mas não é esta força que cortejam os brutos. A poesia dá nó na garganta... as palavras tropeçam, os olhos marejam. Anunciemos a chegada da lua com os nossos batuques, com as nossas esquinas indolentes, com nossa gente gostosa que sabe cantar, mas não sabe se vestir. A poesia me faz poeta quando choro a toa, quando vejo a lua e sei do instante. Sem peso, sou pluma e choro. Sou poeta nas horas sem horas, onde tudo é fumaça, indistinção e lágrima.

5 comentários:

Fabio Rocha disse...

Pura poesia! Linkei e recomendei na minha busca, amigo! Abração

Unknown disse...

Eu gostei :D

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Linda essa casa com asas!

Beijos e flores!

Renata Azevedo Lima disse...

Que prosa ein, Luiz! Ufa... estou meio sem fôlego!

Gostei do lirismo fluindo do seu olhar, da sua forma de ver e interagir com aquele mundo que vc descreveu...
Também acho que a poesia tem essa grande função social de desmanchar os laços da seriedade rígida para permitir formas mais profundas de interação com o mundo, com a natureza!

Parabéns por esta bela produção! É possível uma viagem às elevadas sensações e sentimentos da arte quando se lê esta prosa poética!