“Assimetria das curvas dos rios daquelas matas interiores tocando as linhas retas das estradas da Nova Ibéria; anúncio do novo com seus chips eletrônicos e suas danças para chuvas”.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Muito se diz sobre tudo
Ciência se faz pra entender as coisas
Um beijo pode ser medido? Um carinho raciocinado?
"Pode" - dirão os doutos.

Há entendidos com ar de importância
Bula e cartilha, dedo em riste apontando o caminho
ou rabiscando a revolução nos guardanapos da mesa de bar...

Eu fico quietinho com ar de bobo
Com teu cheiro ainda em mim
Sem entender nada!

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Indiferença

Debrucei-me sobre as pedras que jaziam impávidas aos pés do mar. As ondas se exibiam majestosas aos casais de namorados. Imóveis, aplaudiam com os olhos o espetáculo tagarela das águas profundas. Relinchavam galopes de sal, musgo, e saudade.

Não me diziam nada.

Fiquei a olhar a robustez do pedregulho desafiador, o seu despir imóvel do manto espumoso que insistente o encobria em vão, o seu silêncio maior que os berros do infinito horizonte. Espertíssimo, fingia de morto como o bicho cascudo agora em meu dedo fingindo ser pedra, tijolo, granito. Por que essa ausência que fere os sensíveis e frustra as paixões?

Debrucei-me sobre as pedras, pequenas cordilheiras de indiferença mineral. Orelha sob o casco duro:

Não disse coisa alguma.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Centro

O centro.
Medem-se distâncias e eqüidistâncias.
O centro de nossas senhoras, sagradas senhoras:

- oh senhoras cujos centros
maculados-pererês-paridos-transbordam
Lobato, coitado, sabia apenas de bordas

Mamãe, de cabaço apertado, prendeu-me em seu centro
Viola e canção em alentos de outrora
“Matuto, eis o fundo das coisas!” – dizia:

- O fundo...

O meio do que nos é posto
O-posto do meio do mundo.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Antônio

Vovô enchia caminhões de areia esvaziando o rio
Eu carrego o nome.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Boa Esperança

A chuva desliza em leito frouxo.
Toca a terra a beira das casas de taipa desses ermos onde terra quase não há.
Há beiras e cigarros mascados, pinguelas e cãezinhos chorosos debaixo de pontes cambeiras.
Os sapos prolongam a rouquidão da noite,
E dia não há para os olhos acordarem febris como o sol.
As cores se exilaram, e a imensidão é cinza.
As hortas afogam em prantos. Haverá fome.

Quisera o rio se acometer da frouxidão dos leitos:
Esguio, apruma o corpo com brabeza.
Grosso de barro até as tampas, lambe beiras e canelas.
Desdenha as margens e a solidão do que passa.
Surdo com seu rumor de animal enredado,
Não espera o sol desvanecer-se de sua mortalha de frio.
Corre reto deslizando nas curvas crispado de chuva e esperança vã.

Vão será o mar de mil afagos e infinitos acalantos?